Política da recessão

Vivemos um momento de forte recessão na economia brasileira, apesar de a grande mídia ter afastado esse trágica palavra do noticiário

O caro leitor não tenha dúvida: vivemos um momento de forte recessão na economia brasileira, apesar de a grande mídia ter afastado esse trágica palavra do noticiário. Talvez seja porque Operação Lava a Jato soa mais pomposo, e dê a falsa impressão de que algo está realmente sendo feito entre as paredes do Congresso Nacional e Palácio do Planalto. Quero acreditar nisso, mas como?

No último dia de fevereiro realizamos a segunda edição do Pit Stop dos Consultores Automotivos do Jornal Farol Alto, um mutirão de check-up gratuito em que além de revisar o carro dos motoristas, fazemos a doação de 1 kg de alimento por carro revisado, e convidamos os motoristas a doar também. Pois bem. Avaliamos 50 veículos e fomos às compras. Os consultores, como sempre, decidiram que 50 kg era pouco, e aumentamos a quantidade, para o mesmo da última compra, em novembro, quando realizamos o 1º Pit Stop. Foram, ao todo, 80 kg de alimentos.

A surpresa, porém, veio ao passar no caixa. Mais de 30% de aumento em relação à compra anterior, para os mesmos itens. O que aconteceu com o País em tão pouco tempo? Acredito que todos vocês, caros leitores, já se deram conta de que o custo de vida aumentou muito acima do previsto e que o momento agora é de cortes no orçamento, o que significa recessão.

Carro e moto
Os números não mentem. A Anfavea, associação dos fabricantes de automóveis, vai rever as projeções para 2015, frente aos maus resultados dos primeiros dois meses do ano. Em fevereiro, para se ter ideia, foram vendidos apenas 185,9 mil veículos (automóveis, picapes e comerciais leves, caminhões e ônibus), ante 259,3 mil unidades de fevereiro do ano passado, uma queda de 28,3% nas vendas. No acumulado do ano, o saldo é negativo em 23,1%.

Vendas em baixa, produção também em baixa. A relação fevereiro 2015 e 2014 é negativa em 28,9%, e no acumulado do ano, em -22%. Isso significa desemprego e desemprego é recessão.

Na Abraciclo, associação dos fabricantes de motocicletas, a situação não é diferente. Em fevereiro deste ano houve retração de 21,8% nas vendas em relação ao mesmo mês do ano passado, e a produção registrou queda de 21%. Mais uma vez, menos produção, menos empregos, mais recessão.

O que fazer, então? Muitos já estão de olho na exportação, como forma de enfrentar a crise. Mas, será que nossa indústria está preparada para a acirrada competição internacional? A indústria, sim. Afinal, cortam custos diariamente, sempre na busca de maior rentabilidade. Mas, e a parte que cabe aos políticos? Em outras palavras, os impostos? Ainda somos um país de elevada carga tributária e as contas públicas não param de subir.

Pagamos caro por tudo, e principalmente Saúde e Educação, pois pagamos em dobro: ao governo e às empresas privadas que exploram esses setores. E o pior: gostamos disso. Nos sentimos orgulhosos de poder pagar escola particular e plano de saúde, pois assim nos diferenciamos dos pobres que não podem. E fazemos ainda questão de ficar doentes para ir ao médico, fazer raio-X, tomografia e um monte de exames tecnológicos que no sistema público de saúde demora anos para conseguir agendar… É triste, mas é real.

Somos um país de mais de 200 milhões de habitantes dos quais 1% detém maior parte da riqueza e 60% não tem o que comer, e cabe aos demais 39% levar todos nas costas, pois rico e miserável paga pouco imposto. E, como somos minoria (e número e poder aquisitivo), dificilmente mudaremos isso.

Vivemos, assim, um política de recessão que apesar dos bons resultados macroeconômicos dos primeiros anos deste século, tem se revelado um péssimo negócio, a ponto de ficar insustentável nos próximos meses. Fato é que o Brasil não vai falir, mas a vida vai ficar cada vez mais difícil para quem está acostumado a ser classe média. O empobrecimento é inevitável a não ser que algo seja feito. A única certeza é de que os ricos e miseráveis não farão nada para mudar essa situação.

Boa leitura
Alexandre Akashi
Editor

Tags: