Morte no trânsito

A lição que o acidente do Cristiano Araújo nos deixa é que com carro não se brinca. Pois é o mesmo que brincar com a vida. Seja consciente, faça revisões regularmente. Não beba antes de dirigir e use sempre o cinto de segurança, inclusive no banco de trás

A morte do cantor Cristiano Araújo e a namorada, Allana Moraes, vítimas de um trágico acidente de carro, abriu a discussão para temas importantes que são pouco abordado na grande imprensa, além, é claro, de um monte de especulação sem sentido provocado por mentes ignorantes e desocupadas que só se importam em ver o circo pegar fogo. Mas, o que interssa é falar sobre segurança ao conduzir um automóvel, e como se comportar dentro dele.

O uso do cinto de segurança no banco traseiro é lei já faz tempo, mas poucos utilizam, alguns por ignorância, outros por preguiça. Andar acima da velocidade permitida também é infração de trânsito, alguns respeitam, mas a grande maioria, não. Existem muitas desculpas e explicações para estes comportamentos. Uma delas é a da falta de fiscalização. Realmente, se houvesse mais guardas e radares nas ruas, haveria menos transgressores.

Outra desculpa é que algumas leis de trânsito são impossíveis de cumprir. Nos próximos dias, ainda em julho, na cidade de São Paulo, as principais vias expressas terão a velocidade máxima reduzida de 90 km/h para 70 km/h, sob o pretexto de dar mais segurança para o trânsito. Claro, andar mais devagar vai fazer com que haja menos acidentes e, caso ocorra, os danos serão menores. Faz sentido, mas não é o que vai acontecer.

O problema das autoridades brasileiras é que fazem tudo por imposição, e a população tem de aceitar isso e empurrar por guela abaixo uma determinação que até faz sentido, mas não é explicada. E, sem explicação, fica mais difícil para a população entender os motivos das regulamentações.

A morte do casal explicou direitinho o que acontece quando se viaja no banco de trás de um veículo sem usar cinto de segurança. Em caso de acidente, os corpos dentro do carro podem voar para fora e se arrebentarem no chão. Mas, só se acontecer um acidente. Do contrário, não tem problema.

A grande imprensa fez alarde para o fato durante alguns dias, e agora todos querem saber se o culpado é o motorista, ou não. Mesmo que ele tenha dormido ao volante, a morte do casal foi um trágico acidente, do tipo que ocorre todos os dias com centenas de ilustres desconhecidos pelo mesmo motivo.

O que falta, então? A resposta é educação. Há países em que o operário adquire por conta própria o equipamento de proteção individual (EPI). Ele o faz pois é a vida dele que pode estar em jogo. Não fica esperando alguém dar para ele e, se não estiver devidamente equipado, não efetua o trabalho. No Brasil, a empresa é obrigada a dar o EPI, mas mesmo assim, muitos não usam. Para que? Atrapalha. A resposta é educação.

Um povo sem educação, sem ensino de qualidade, sem aprendizado é facilmente manipulado, e acaba engolindo leis que até fazem sentido, mas não são explicadas. Mesmo porque, se forem explicadas, poucos entenderão. Há alguns anos, quando foi imposto a inspeção veicular ambiental na cidade de São Paulo, pouco foi explicado os reais motivos dessa lei. O negócio foi feito de forma tão frágil, que o administrador seguinte decidiu que não valia a pena este gasto para a população e simplesmente revogou a lei. Tal como veio, foi.

A sociedade paulistana perdeu duas vezes: a primeira quando foi implementada e a segunda quando foi retirada de vigor. Mas, o que realmente interessava, não foi feito, ainda.

Nesta edição do Jornal Farol Alto avaliamos as condições de manutenção de 74 veículos (60 automóveis e 14 motocicletas) durante um dia inteiro, em evento que batizamos de Pit Stop Farol Alto. Contamos com a valiosa colaboração dos nossos Consultores Automotivos, proprietários de oficinas mecânicas, e Patrocinadores, fabricantes de autopeças. O resultado foi lastimável, pois apenas um carro completou o circuito de check-up com todos os itens ok. Um carro entre 74 veículos avaliados.

Isso nos dá uma base para argumentar que apenas 1,35% dos carros que circulam pela cidade estão 100% aptos a rodar. Mesmo que este número suba para 15% (afinal, uma mostra de 74 veículos é bem míope ante uma frota de mais de 6 milhões) é muito carro com defeitos rodando. E, ainda que seja, defeitos simples e banais como uma lâmpada queimada, pode ser que isso seja o suficiente para causar um acidente.

A lição que o acidente do Cristiano Araújo nos deixa é que com carro não se brinca. Pois é o mesmo que brincar com a vida.

Alexandre Akashi
Editor

Tags: