Estratégias eletrônicas

A adoção de componentes eletrônicos, os carros passaram a sinalizar melhor os defeitos para evitar acidentes; o desafio é saber interpretar cada um desses sinais

Na edição anterior foi explicado como o sistema de injeção eletrônica funciona a partir de uma série de sensores e atuadores interligados a uma central que gerencia e comanda o momento exato da combustão.

Todos os equipamentos estão interligados em rede e passam a interferir na forma como o veículo funciona

Todos os equipamentos estão interligados em rede e passam a interferir na forma como o veículo funciona

Foi introduzido também o conceito de rede de comunicação em que diversos módulos eletrônicos estão conectados entre si para melhor gerenciamento do veículo, tanto em relação à emissões de gases quanto à segurança, aspecto que será detalhado neste texto.

A grande maioria já ouviu falar do sistema de freios ABS com EBD e ESP. ABS é sigla em inglês para sistema de freios antibloqueante. EBD significa distribuição eletrônica de frenagem e ESP é sistema eletrônico de estabilidade. A maioria dos carros com ABS tem EBD, mas nem todos têm ESP, pois o controle de estabilidade requer muito mais poder de processamento do módulo, o que encarece o veículo.

A priori, o ABS pode trabalhar independente de qualquer outro sistema, simplesmente para evitar o travamento das rodas, porém quando equipado com ESP é preciso que o módulo de freio converse com o de injeção. No momento da perda de estabilidade, além de acionar o freio, o sistema avisa o motor para parar de injetar combustível  Não adianta nada querer acelerar mais nesta condição, pois o carro está fora de controle. A ordem é reduzir a velocidade.

Existem casos de veículos que do nada o motor começa a falhar, e quando é feito o diagnóstico, o sistema acusa problema no sistema de injeção, mas ao efetuar os testas, as válvulas injetoras estão em perfeito estado. A tensão na bateria também está boa, o alternador funciona, assim como a bobina, velas, cabos de vela, bomba de combustível está ok, tudo em ordem, mas ao ligar, o carro falha um cilindro. Simplesmente desligou.

Estes modelos possuem um módulo no sistema de iluminação e quando uma lâmpada de freio queima a estratégia é provocar uma falha leve de motor, que não imobiliza o carro, mas incomoda o suficiente para obrigar o motorista a levar o carro até a oficina. A solução é simples, basta trocar a lâmpada queimada e resetar os parâmetros do carro, e pronto. E o motivo desta estratégia é a segurança, pois um carro com lâmpadas de freios queimadas tem mais chances de provocar acidentes. Por isso, é importante sempre verificar se todas as luzes de sinalização funcionam, independente de o carro ter este tipo de estratégia de funcionamento.

Proteção
É possível notar, assim, que os carros já possuem um número considerável de módulos eletrônicos, que trabalham interconectados em rede. É como em uma empresa, onde todos os computadores estão ligados a um servidor e compartilham informações. O chefe tem acesso a todas elas, para efetuar a melhor tomada de decisão possível.

No caso do automóvel, a melhor decisão é andar de forma mais eficiente e segura possível. A quantidade de variáveis é enorme, desde as condições climáticas (sol, chuva, pista seca ou molhada, pressão atmosférica, temperatura do ar, claridade), às necessidades do motorista (aceleração, desaceleração, pista reta, curva, aclive, declive), condições do veículo (carregado, leve, pressão do ar nos pneus, condições dos componentes de desgaste – freios, filtros, óleo do motor, tipo de combustível utilizado, vácuo, pressão da bomba de combustível, resultado da queima etc.), e também uso de sistemas de conforto (ar-condicionado, áudio e vídeo, teto solar, vidros abertos ou fechados etc.). Todos estes parâmetros podem ser levados em consideração pela central eletrônica quando o motorista pisa fundo no acelerador.

Neste momento, pergunta a todos os módulos disponíveis se está tudo em ordem e pode liberar combustível para queimar. O problema é que quanto mais informação disponível, maior é o tempo que o sistema precisa para tomar a decisão e, para reduzir esse tempo há duas alternativas: diminuir a quantidade de informações ou aumentar a velocidade dos processadores de dados. A primeira reduz custos e segurança, enquanto a segunda, aumenta.

Se a engenharia mandesse nos departamentos financeiros das montadoras, com certeza a segunda alternativa seria muito mais frequente do que a primeira. Prova disso são os veículos topo de linha das marcas premium, como Mercedes-Benz, BMW, Audi, Rolls Royce e dezenas de outras marcas disponíveis apenas para pequena parcela da população mundial.

Mas, como é preciso vender carros com maior lucro, quanto menor o custo, melhor. Em países onde os governos trabalham minimamente a favor da vida e da sociedade, as leis são rigorosas em relação ao uso de equipamentos de segurança (air bags, ABS, ESP etc.), e manutenção preventiva (inspeção técnica veicular), para reduzir os riscos de acidentes e minimizar seus danos, e proteção ao meio ambiente. A sociedade também cobra das empresas a disponibilidade de equipamentos de segurança nos veículos e recusam modelos que não atendem as exigências mínimas de proteção aos ocupantes.

Já no Brasil, quanto menos tecnologia, melhor. E, nem por isso o preço é menor. Afinal, brasileiro é apaixonado por carros e não está nem ai para a própria vida.

Mas, voltando à tecnologia, todos estes componentes eletrônicos que hoje fazem parte do automóvel, principalmente na parte mecânica do sistema propulsor, funcionam como sistema de proteção do veículo, para evitar fundir o motor, o dano mais catastrófico que um carro pode sofrer. É como ter um ataque cardíaco. E, por muitos mecânicos entenderem bem de mecânica, mas saber pouco sobre eletrônica, o automóvel moderno virou um ser do outro mundo, cheio de fios e peças difíceis de entender.

A boa notícia é que nas próximas edições mostraremos que não é preciso se preocupar com isso. Não percam.