Precisão automotiva

A cada dia, os componentes aceitam variações menores em clara indicação de que estão mais precisos. Por isso, é importante utilizar peças e equipamentos de qualidade

Desde que comecei a atuar no setor automotivo tenho dito a mesma coisa: atenção aos conceitos básicos que fazem um carro funcionar. Pode parecer óbvio, mas é justamente isso que separa um bom mecânico de um curioso.

Amil Cury

Amil Cury

Este mês auxiliei um novo amigo a resolver um problema de um carro que ficou quase um mês na oficina, consumiu centenas de horas de trabalho de três funcionários, e tirou o sono de muita gente.

Histórico
O Fiat Mille 2013 chegou de guincho na oficina, vinda de uma outra empresa. Foi fazer serviço de suspensão e do nada não dava mais partida. A pessoa que mexeu na suspensão foi demitida sem finalizar o serviço, que foi terminado por outro profissional. Ao descer o carro do elevador, não ligou mais.

Ao receber o carro, a primeira providência foi passar o scanner automotivo, que indicou falha no sensor de rotação. Não havia leitura. Trocaram o sensor e nada, o problema continuou.

Suspeitou-se do módulo de injeção. Retiraram o módulo e colocaram um novo. Também não resolveu o problema. O carro ainda não ligava e o scanner continuava informando problema no sensor de rotação.

Poderia ser um problema de curto-circuito no chicote. Como havia um outro carro idêntico na oficina, porém um pouco mais antigo, 2010, que funcionava corretamente, trocaram os chicotes. Mais uma vez, não era este o problema.

Outros testes foram feitos, tensão da bateria, avaliação das velas de ignição, bobina, tudo estava em ordem, mas não havia faísca e o motor não pegava de jeito nenhum.

No momento que cheguei à oficina, os rapazes estavam com outro Mille idêntico porém um pouco mais antigo emparelhado, tentado usar o chicote de um com o módulo do outro fazendo um malabarismo incrível na esperança de sabe-se lá o que, e aqui abro um parênteses para explicar uma tese que venho trabalhando há alguns dias.

De 2012 em diante, os componentes eletrônicos que fazem parte do automóvel estão mais precisos, o que significa dizer que a margem de erro admitida é menor.

Antes que começassem a desmontar ainda mais o carro, sugeri ao pessoal que fizesse um teste simples. Para tanto era preciso apenas um equipamento: um multímetro, aparelho que iremos demonstrar toda potencialidade em um próximo artigo.

Diagnóstico
Aqui faço uma crítica a este meu novo amigo, pois não havia sequer um único multímetro na oficina que estivesse com as pontas de prova em ordem. O que havia eram pedaços de cabos de cobre que mais pareciam gambiarras, algo quase impossível de se obter uma leitura precisa. Bom quem não tem cão caça com gato e foi nestas condições mesmas que pedi para fazerem o teste.

Como os dois carros estavam lado a lado, pedi, como demonstração, que soltassem o sensor de rotação do Fiat que não pegava e ligassem nele o multímetro para medir a tensão gerada ao dar a partida no carro. Chamou atenção para a baixa rotação que o motor girava, estava pesado meio que emperrado.

Pedi para que fizessem o mesmo no outro Fiat, que funcionava corretamente, para que medissem a tensão gerada. Os valores aqui não vem ao caso, pois como disse anteriormente, o equipamento não era confiável.

É importante lembrar que a tensão gerada é diretamente proporcional à rotação do motor. Quanto mais rápido, maior é a tensão. E a lição que fica é a seguinte: se antigamente os motores pegavam mesmo girando devagar, hoje isso não acontece mais, juntamente por causa da maior precisão dos componentes utilizados.

Descobrir porque o motor estava pesado solucionaria o problema. A análise do diagnóstico levou menos de uma hora, pois minha intenção era ensinar os mecânicos da oficina a entender o problema para solucioná-lo. Se fosse somente para tirar o defeito do carro, teria matado a charada em menos de 15 minutos e sem trocar uma única peça. Essa é a parte importante do negócio: analisar o problema e encontrar o defeito antes de trocar os componentes que o scanner indica como possível causa do defeito.

No final das contas, a culpa era do óleo do motor, que estava em estado pastoso e bloqueava a rotação do motor. Foi só trocar o óleo, fazer uma limpeza química e pronto. O sensor estava em ordem, o módulo funcionando bem e não havia nenhum problema no chicote do veículo.

Com a técnica certa, os problemas podem ser resolvidos de forma muito mais ágil e é justamente isso que planejamos. Estamos desenvolvendo uma série de cursos técnicos para mostrar técnicas avançadas de análise de diagnóstico em que abordaremos os mais complexos defeitos e como solucioná-los.

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