Carro movido a água. Será mesmo?
Equipamento promete 100% de economia no consumo ao injetar no motor hidrogênio e oxigênio extraído da água (eletrólise) juntamente com o combustível sólido
Com os recentes aumentos do preço dos combustíveis, muitos inventores de fundo de quintal tem apresentado soluções milagrosas que prometem economia de 60% a 100% com a aplicação de um kit mágico, que extrai hidrogênio e oxigênio da água, em forma de gases, e os injetam no motor.
O Canal 100% Motor testou quatro equipamentos diferentes que prometem fazer o carro andar com água e nenhum deles apresentou resultado satisfatório, além de não cumprir com a economia prometida. “O máximo que chegou foi a 10% de economia, mas com ressalvas”, afirma Sérgio Pires, da Sérgio Performance, oficina de preparação de motores que conduziu os testes a pedido do Canal 100% Motor.
Pires explica que todo veículo moderno possui um sensor de oxigênio e quando se adiciona a mistura de gases à queima do combustível sólido, o sensor acusa mistura pobre e a ECU (módulo de injeção) ordena às válvulas injetoras aumentarem o tempo de injeção para compensar o excesso de oxigênio. “Com isso, a tendência do veículo é aumentar o consumo ao invés de diminuir”, diz Pires.
A única forma de corrigir isso é com a aplicação de um equipamento que engana o módulo, por meio de programação eletrônica definida pelo usuário. “Com este dispositivo, conseguimos informar o módulo que os valores lidos pela sonda são os ideais, apesar de a sonda estar lendo mistura pobre”, explica Pires.
Porém, o equipamento não faz milagres, pois de acordo com as medições, misturas acima de 10% de hidrogênio ao combustível líquido resultaram em perda de potência do motor. “Com 15%, o motor quase não parava ligado, o que deu a entender que a quantidade de hidrogênio gerado não era suficiente”, diz Pires.
Metodologia do teste
Todo o teste foi realizado em um dinamômetro de bancada, com motor especialmente preparado, com taxa de compressão de 12:1, gasolina comum e uma bateria automotiva 12V. Foi utilizado um sistema de injeção programável, que permite ajustar o tempo de injeção de acordo com a melhor condição de torque e potência. O sensor de oxigênio foi desabilitado, para não interferir na calibração. Este é o mesmo procedimento utilizado nas montadoras durante a calibração dos motores.
Antes de iniciar o teste com os kits de hidrogênio, foi realizada a calibração do motor somente com gasolina, de forma a se obter os melhores resultados de torque e potência. A partir de então, foram instalados os kits e para cada um foram realizados diversas medições, de 100% do tempo de injeção ideal até 75%.
O resultado foi que todos os kits apresentaram bom desempenho até 90% do tempo de injeção ideal, o que significa economia de combustível sólido de 10%. “A partir desse ponto, o motor perdia torque e potência, pois a energia da bateria 12V não era sufucente para gerar a quantidade de hidrogênio necessária.”, explica Pires.