Carro movido a água. Será mesmo?

Equipamento promete 100% de economia no consumo ao injetar no motor hidrogênio e oxigênio extraído da água (eletrólise) juntamente com o combustível sólido

José Carlos Finardi Editor técnico

José Carlos Finardi
Editor técnico

Com os recentes aumentos do preço dos combustíveis, muitos inventores de fundo de quintal tem apresentado soluções milagrosas que prometem economia de 60% a 100% com a aplicação de um kit mágico, que extrai hidrogênio e oxigênio da água, em forma de gases, e os injetam no motor.

O Canal 100% Motor testou quatro equipamentos diferentes que prometem fazer o carro andar com água e nenhum deles apresentou resultado satisfatório, além de não cumprir com a economia prometida. “O máximo que chegou foi a 10% de economia, mas com ressalvas”, afirma Sérgio Pires, da Sérgio Performance, oficina de preparação de motores que conduziu os testes a pedido do Canal 100% Motor.

Esquema de ligação do gerador de hidrogênio e oxigênio ao motor

Esquema de ligação do gerador de hidrogênio e oxigênio ao motor

Pires explica que todo veículo moderno possui um sensor de oxigênio e quando se adiciona a mistura de gases à queima do combustível sólido, o sensor acusa mistura pobre e a ECU (módulo de injeção) ordena às válvulas injetoras aumentarem o tempo de injeção para compensar o excesso de oxigênio. “Com isso, a tendência do veículo é aumentar o consumo ao invés de diminuir”, diz Pires.

Equipamentos testados resultaram em apenas 10% de economia sem comprometer desempenho do motor

Equipamentos testados resultaram em apenas 10% de economia sem comprometer desempenho do motor

A única forma de corrigir isso é com a aplicação de um equipamento que engana o módulo, por meio de programação eletrônica definida pelo usuário. “Com este dispositivo, conseguimos informar o módulo que os valores lidos pela sonda são os ideais, apesar de a sonda estar lendo mistura pobre”, explica Pires.

Energia da bateria 12V não é suficiente

Energia da bateria 12V não é suficiente

Porém, o equipamento não faz milagres, pois de acordo com as medições, misturas acima de 10% de hidrogênio ao combustível líquido resultaram em perda de potência do motor. “Com 15%, o motor quase não parava ligado, o que deu a entender que a quantidade de hidrogênio gerado não era suficiente”, diz Pires.

Metodologia do teste
Todo o teste foi realizado em um dinamômetro de bancada, com motor especialmente preparado, com taxa de compressão de 12:1, gasolina comum e uma bateria automotiva 12V. Foi utilizado um sistema de injeção programável, que permite ajustar o tempo de injeção de acordo com a melhor condição de torque e potência. O sensor de oxigênio foi desabilitado, para não interferir na calibração. Este é o mesmo procedimento utilizado nas montadoras durante a calibração dos motores.

Antes de iniciar o teste com os kits de hidrogênio, foi realizada a calibração do motor somente com gasolina, de forma a se obter os melhores resultados de torque e potência. A partir de então, foram instalados os kits e para cada um foram realizados diversas medições, de 100% do tempo de injeção ideal até 75%.

O resultado foi que todos os kits apresentaram bom desempenho até 90% do tempo de injeção ideal, o que significa economia de combustível sólido de 10%. “A partir desse ponto, o motor perdia torque e potência, pois a energia da bateria 12V não era sufucente para gerar a quantidade de hidrogênio necessária.”, explica Pires.