Hipocrisia e corrupção no Brasil

Antes de apontar o dedo para alguém, repense as próprias ações. Talvez assim haja luz no fim do túnel

Somos uma nação de hipócritas. Talvez entre os cerca de 200 milhões de habitantes existentes no País, dois ou três se salvam, mesmo porque são muitos jovens ainda para saber do que se trata. Mas para todo restante, não há salvação.

Se você ficou chocado com isso deve parar de ler este editorial agora. Provavelmente é um destes que para ganhar tempo ao fazer uma conversão para entrar em uma via congestionada corta todo mundo pela faixa mais livre e ao chegar no limite para virar interrompe o caminho de quem vem atrás e aguarda a caridade de um otário que ficou mais de 10 minutos na fila para fazer a mesma manobra que você. Isso, caros leitores, não é ser esperto, é ser medíocre. Seu tempo não é mais valioso do que o dos outros, e sua inteligência, não é maior também. E achar isso errado, mas fazer mesmo assim, é hipocrisia.

Hipocrisia é também o que fez aquele cidadão do Espírito Santo, que se diz líder de grupo contra corrupção, ao bater o cartão de ponto e ir embora. Que belo exemplo! Mas, infelizmente, se fossemos nos espelhar em bons exemplos, estaríamos órfãos. Como citado anteriormente, somos uma nação de hipócritas e, com isso, toleramos a corrupção em todos os níveis, do cafezinho para o garçom do serviço de buffet te servir com prioridade aos milhões de dinheiro para ganhar uma concorrência. E, o pior, é que sempre foi assim, e quem quiser sobreviver, que entre na dança.

O mês passado trouxe à tona um caso de corrupção que muitos desconfiavam que existia mas jamais ousavam externar, uma vez que mexia com uma paixão nacional, o futebol. Nos Estados Unidos, uma nação ainda tão distante do futebol como conhecemos, o FBI saiu em diligência atrás dos figurões da Fifa. E claro, descobriram um monte de lama, jogadas obscuras, trapaças e maracutaias, dignas das teorias da conspiração. Por que fizeram isso? Devem ter motivos, mas não é isso que interessa a nós, por enquanto.

O interessante dessa história é que realmente confirma o velho bordão dos jogadores do final do século passado: “O futebol é uma caixinha de surpresas…” Bom, para alguns bam-bam-bans não era, e agora virou.

Sinto pena dos que são fãs do esporte, pois isso jogou a primeira pá de terra no funeral da paixão. Nada mais pode ser encarado da mesma forma. Nenhum jogo tende a ter mais a mesma emoção. Tudo está lá para cumprir tabela, pois o resultado já está decidido.

Isso me lembra até outro assunto, que não é movido pela paixão da massa mas os teóricos da conspiração garantem que a disputa é feita com cartas marcadas: as eleições. Impressionante como em um momento de crise econômica e recessão como a que vivemos atualmente não existe mais alma viva que diga que votou nos atuais governantes. Ninguém quer ser responsável por esta bucha. A culpa é sempre dos outros. Quanta hipocrisia.

Fato é que não deixaremos de ser hipócritas nem corruptos. Isso é uma característica do ser social, humano ou não. Os humanos, porém fazem leis com objetivo de manter uma ordem diferente da natural, e enquanto alguns a seguem, outros as quebram. Enquanto algumas culturas punem os fora da lei com severo, outras, não. Pois, bem. Dessa forma, fazer leis é um ato de hipocrisia, uma vez que já se sabe que alguns não a seguirão.

Mas para piorar, as leis são aplicadas de formas diferentes dependendo da pessoa e são interpretadas de maneira que melhor convém, de acordo com interesses particulares. E aos que podem, saem ilesos de punição, o que gera um sentimento de revolta, individualismo, onde está cada um por sí. Se eles podem, eu também posso, e se nada lhes acontece, porque não fazer?

Bom termômetro disso é o trânsito. São muitas vias para poucos fiscais, e assim que se danem as leis. Quem anda no limite da velocidade em uma cidade que para arrecadar mais dinheiro com multas muda os limites da noite para o dia? Ou ainda proíbe conversões que são simples como entrar em uma avenida à direita em um cruzamento com semáforo? Quem anda até a faixa de pedestre ou utiliza a passarela para atravessar a avenida, se é possível passar por entre os carros?

Ou ainda para que andar na calçada, se no meio da rua é mais plano e não tem tantos degraus?

Para que sinalizar com seta as conversões? Rodar a 10 km/h na faixa da esquerda, com um caminhão caindo aos pedaços e soltando fumaça preta também não é problema.

A verdade é que somos hipócritas e corruptos porque não temos educação. Pensem nisso.

Alexandre Akashi
Editor

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