Ventoinha nervosa

Tem gente que reclama do número de vezes que o dispositivo aciona durante o trajeto e para tentar minimizar, retira a válvula termostática. Isso é um grande erro

José Carlos Finardi Editor técnico

José Carlos Finardi
Editor técnico

Diversas vezes quanto tive oficina, atendi motoristas reclamando que a ventoinha ficava ligada direto, enquanto circulava por vias urbanas. Queriam saber se era algum defeito do carro e se tinha como resolver esse problema, pois era incômodo e desconfortável.

Ocorre, porém, que a maioria dos motores foi projetado para funcionar assim. A explicação é simples: a temperatura ideal de trabalho dos motores é de aproximadamente 105º C, e para manter essa temperatura o mais tempo possível, o sistema de arrefecimento entra em ação de forma constante, o que implica no acionamento da ventoinha.

A válvula termostática serve para controlar a temperatura do motor; na fase fria permanece fechada para o motor aquecer mais rápido

A válvula termostática serve para controlar a temperatura do motor; na fase fria permanece fechada para o motor aquecer mais rápido

A grande maioria dos clientes se contentava com essa explicação, porém alguns outros não. E tempos depois voltavam com uma nova reclamação: consumo excessivo. O discurso era sempre o mesmo: depois que o mecânico resolveu o “defeito” da ventoinha, o carro começou a gastar demais.

Depois de efetuar alguns testes, descobria o problema. Para diminuir a quantidade de vezes que a ventoinha ligava, era retirada a válvala termostática, e com isso o líquido refrigerante passava direto entre o motor e radiador, resfriando o motor com maior frequência.

Sem a válvula termostática, o motor demora mais para aquecer. Na fase fria, o sistema de injeção tem como estratégia aumentar em 15% (média) o tempo de injeção e atrasar a ignição para melhorar a performance, justamente para chegar a temperatura ideal de trabalho.

Normalmente, na fase fria, a válvula termostática se mantém fechada para que o motor atinja mais rápido a temperatura ideal de trabalho. À medida que aquece, aproximadamente aos 100ª C, a válvula abre gradativamente, e libera a circulação da água no radiador.

Ao rodar em estrada, com fluxo de ar constante, a válvula fecha para reter a temperatura ideal do bloco e cabeçote. Sem ela, o motor trabalha sempre frio, com temperatura entre 15º a 20º C, o que o sistema de injeção traduz como fase fria, e aumenta o tempo de injeção chegando a afogar o veículo.

Nestas condições, além de aumentar o consumo, está danificando catalisador e sonda lambda, e também prejudicando os anéis do motor, que se desgastam mais quando se dirige em alta rotação em um bloco frio.

Este é, portanto, um defeito colocado, e é difícil de detectar, mas existe uma forma simples de saber se o carro tem ou não válvula termostática:

Com o motor frio, dar a partida e monitorar as mangueiras superior e inferior do radiador. Se ambas aquecerem simultaneamente, é certeza de que o carro está sem válvula termostática, ou o componente está com defeito, travado aberto. Em condição normal, uma se mantém fria, enquanto a outra vai aquecer. Quando a ventoinha acionar, ambas mangueiras devem estar aquecidas.