Pequenos e caros

Os compactos premium caíram no gosto do consumidor, mas o custo de manutenção pode não ser proporcional ao tamanho do veículo

Quando chegou ao mercado, no último trimestre de 2009, o Chevrolet Agile fez torcer o nariz da imprensa especializada, mas nem por isso deixou de vender. Muito pelo contrário.

Quando o tamanho não é proporcional ao custo de manutenção

Mesmo com o design de gosto duvidoso, o consumidor aficionado pela marca da gravata foi às compras e fez do carrinho um sucesso de vendas, que agora fica ameaçado pelo concorrência interna com o Ônix, e de forma mais distante, do Sonic.

Porém, na época, o Agile foi um divisor de águas. Chegou com uma nova proposta, ocupar um lugar no segmento dos compactos premium, em que a GM do Brasil não tinha um representante a altura para competir com Fiat Punto, e as francesas Peugeot e Citroën, que anos antes decidiram parar de concorrer no mercado de veículos populares para se especializarem nos compactos com mais motor e tecnologia agregada.

Assim, o argumento de vendas do Agile era justamente a eletrônica embarcada de série, com piloto automático e computador de bordo, além do banco do motorista com ajuste de altura em todas as versões, itens encontrados apenas como opcionais nos modelos concorrentes.

Já a versão mais completa, a LTZ, vem ainda com sistema de audio com tocador de CD/MP3 e conexão bluetooth, faróis de neblina, vidros (frontais), travas e espelhos elétricos, alarme e coluna de direção com regulagem de altura.

O preço do modelo zero Km, atualmente, segundo o site da GM é de R$ 40.320 (LT) e R$ 42. 320 (LTZ). O modelo avaliado é um LTZ 2010, que pela tabela Fipe tem preço médio de R$ 28.747.

Citroën C3

O motor do Citroën tem bloco e cabeçote de alumínio, e rende 82 cv a 5.250 rpm, e 12,6 mkgf a 3.250 rpm com etanol

O modelo escolhido para este comparativo é o Citroën C3 1.4l, um veterano no mercado brasileiro. Lançado em 2003, ganhou motor flex em 2006, e passou por um leve facelift em 2008, até que foi substituído por um novo modelo, no ano passado, mais robusto.

Além do design em formato de ovo, que cativou principalmente o público feminino, o C3 tinha painel com velocímetro digital, algo não muito comum na época, que chamou atenção do consumidor.

Considerado compacto premium, não oferece opções com motor 1.0 litro , e vinha recheado de itens de série, com ajuste de altura do banco do motorista, ajuste de altura e profundidade do volante, direção elétrica, entre outros.

Pena que na revenda o C3 faz feio em comparação com o Agile. O modelo 2010 do C3 GLX 1.4l, tem preço médio de R$ 25.293, segunda tabela Fipe. Com os R$ 28.747 do Agile é possível levar um C3 2011, e ainda economizar quase R$ 500.

Na oficina

Se por um lado o C3 faz feio na revenda, por outro foi o preferido dos consultores do Jornal Farol Alto neste comparativo. “É um carro que entrega uma excelente relação custo-benefício”, comenta Eric Faria, da 3E Motors.

Porém, nem por isso é perfeito. Segundo Faria, o modelo apresenta alguns defeitos crônicos, como problema mecânico na caixa de direção e suspensão. “A caixa fica barulhenta e o reparo custa cerca de R$ 1.000, porém há casos em que é necessário trocar a caixa, e ai o conserto não fica menos do que R$ 3.600, só a peça”, diz.

Com relação à suspensão, o consultor Júlio de Souza, da Souza Car, comenta que só utiliza peças originais, preferencialmente comprada na concessionária. “Se for preciso trocar as bieletas, não uso paralela, pois sei que são dois trabalhos”, diz.

Outro item crônico é o eletroventilador, que segundo o consultor Sérgio Torigoe, da AutoElétrica Torigoe,  apresenta problema intermitente, e para de funcionar sozinho, e faz o motor ferver. “Já peguei nova com problema”, afirma.

Especializado em Citroën, Eric Faria, da 3E Motors, comenta que esta é uma peça cara, pois só é vendida em kit (ventilador e módulo eletrônico), e o conserto não sai por menos de R$ 1.050.

Agile

Com 8 válvulas, o motor 1.4 Econo.Flex rende até 102 cv a 6.000 rpm e apresenta torque máximo de 13,5 mkgf a 3.200 rpm (etanol)

Se pro um lado a lista de problemas cônicos do Citroën é cara, a do Chevrolet Agile é extensa. “Pela quantidade de problemas que já vi nesse modelo, tenho a impressão que a GM lançou o carro e fez o consumidor de cobaia”, comenta o consultor Júlio de Souza.

O primeiro defeito citado pelos consultores foi o problema de reconhecimento de combustível, que os modelos 2010 apresentavam com frequência. “Precisava do scaner para reinicializar o sistema e, em casos mais graves, trocar o módulo,”, comenta Sergio Torigoe, da AutoElétrica Torigoe.

Mais moderno, o Agile tem porta-malas de 327 litros ante os 305 do C3

Outro defeito grave, segundo os consultores é o filtro de óleo, que quebra e deixar de lubrificar o cabeçote. “Além disso, tem de tomar cuidado com o bujão do cárter, e se possível fazer a troca de óleo por sucção, pois sempre fica 300 ml de óleo no cárter quando trocado por baixo”, diz Francisco Carlos, da Stilo Motores, que recomenda usar somente óleo 5W30. “Tem gente colocando 20W50 por ser mais barato e isso tem dado problema”, diz.

Outro item que costuma dar defeito é sensor de pedal da embreagem, que segundo Torigoe perde a referência, e deixa o carro muito barulhento.

Além destes problemas, Torigoe presenciou um caso curioso: apagão no painel da ventilação causado por uso de lâmpada errada na luz de freio. “Ao invés de instalar uma de 2 pólos, colocaram de 1”, comenta.