Carga leve
As picapes leves mais vendidas no País mostram diferenças gritantes de vocação; enquanto o Fiat Strada é bom de carga, o VW Saveiro é um automóvel com caçamba
Já se foi o tempo em que automóvel Volkswagen era sinônimo de carro com mecânica simples que qualquer pessoa com pouco conhecimento sabia fazer funcionar.
Por outro lado, também já foi o tempo em que Fiat era sinônimo de dor de cabeça, porque nenhum mecânico sabia exatamente como funcionava e ainda sofria para trocar peças simples e corriqueiras, como uma correia dentada.
O que mudou? A mentalidade dos executivos das respectivas montadoras. Se nos anos 1980, 1990 e 2000 Fusca, Brasília, Kombi, Variant, Passat, Gol, Voyage, Parati e Saveiro eram os carros da vez, ante 147, Uno, Oggi, Elba, Tipo e Tempra, nos dias atuais Palio, Strada e Punto superam expectativas muito mais do que Gol, Voyage e Saveiro.
“Enquanto a Fiat simplificou os projetos, a Volkswagen fez o contrário, deixou os carros mais complexos e difíceis de trabalhar”, afirma o consultor Claudio Cobeio, da CobeioCar.
Fato é que com a aplicação cada vez maior de componentes eletrônicos no gerenciamento dos sistemas automotivos, projetos simples não existem mais. O que era puramente mecânica 20 anos atrás, hoje é 100% controlado por dispositivos elétricos, que efetuam cálculos a partir de uma quantidade cada vez maior de dados, colhidos de sensores instalados nos mais diversos pontos do carros e que interferem diretamente no seu funcionamento.
Assim, escolhemos dois modelos que estão no mercado há muito tempo, e passaram por diversas atualizações até chegarem no que são hoje: Volkswagen Saveiro 1.6l e Fiat Strada 1.8l E.torQ,
VW Saveiro
A Saveiro esteve bem perto da extinção, entre 2003 e 2009, quando as vendas foram mínimas por conta da forte concorrência com Fiat Strada e Chevrolet Montana.
Mas, com a chegada da geração 5 do Gol, a VW reviveu a picape, assim como o sedan compacto Voyage (este, sim, renascido das cinzas), e agora passa a oferecer o modelo em diversas versões e configurações, tendo sempre o motor 1.6 litro EA 111, de 104 cv de potência e 15,6 Kgfm de torque máximo.
Disponível em três opções de acabamento (básico, Trooper e Cross), e dois tipos de cabine (simples e estendida), tem custo a partir de R$ 33.940, até R$ 49.640, que pode chegar a R$ 52.611, dependendo da cor e opcionais instalados. A versão básica 2012 é cotada por R$ 31.755, enquanto a Cross, por R$ 39.079 (Fipe).
Fiat Strada
Por outro lado, o Fiat Strada é um campeão de vendas, o que permite à montadora inventar e inovar.
Atualmente oferece oito opções do modelo, com três motores diferentes e três tipos de cabine, em três versões (Working 1.4 Cabine Simples (CS), Cabine Estendida (CE) e Cabine Dupla (CD); Trekking 1.6l CS, CE e CD, e Adventure 1.8l CE e CD).
O motor 1.4l é um velho conhecido, enquanto o 1.6l e 1.8l são da nova geração E.TorQ, apresentado ao mercado em 2010, produzido no Paraná, tendo como base os motores Chrysler. Este foi o fim da correia dentada e início da era da corrente de transmissão, que tem como ponto positivo a maior durabilidade. Dificilmente durante toda a vida útil do carro será necessário substituir a corrente, exceto em raríssimos casos de total ausência de manutenção.
Na oficina
O VW Saveiro foi muito mais criticado pelos Consultores Automotivos do Jornal Farol Alto do que o Fiat Strada, principalmente por conta dos problemas que os motores EA111 apresentaram há cerca de dois anos, que obrigou a montadora retificar uma série de blocos em garantia, pois com 20.000 Km fundiam.
Na época, a VW alegou problemas com a formulação do lubrificante e ficou por isso mesmo. Estranho é que a mesma marca continua como fornecedora oficial, apesar de todo o prejuízo que causou.
De acordo com o consultor Eduardo Topedo, da Ingelauto, o maior problema dos VW atuais é o sistema de ignição em geral. “Cabo de ignição e bobina são ruins, apresentam baixa durabilidade é alto custo”, afirma. “O defeito mais comum é na injeção, o carro não pega, e o aparelho e não acusa nada. Isso dificulta o trabalho”, diz.
Já a picape da Fiat rendeu muitos elogios dos consultores, apesar da pouca familiaridade com o motor E.torQ. A maior crítica é o posicionamento do filtro de óleo, localizado na parte posterior do motor. “Dá um pouco mais de trabalho em relação ao modelo anterior, que tinha motor GM, mas mesmo assim não é bicho de sete cabeças”, afirma Claudio Cobeio, da CobeioCar.
A preferência pela Strada na avaliação dos consultores é clara. Enquanto o Fiat teve média 8,91, a Saveiro obteve média 7,58. “É um carro confiável, robusto e com baixo índice de manutenção”, diz Júlio de Souza, da SouzaCar.
Porém, ao comparar o preço de peças nas concessionárias, o Fiat é quase duas vezes mais caro do que o VW, que divide a maioria dos componentes com outros modelos da família G5.